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22 de Maio de 2025
A vida fora do ecrã
Hoje em dia, tudo acontece num ecrã. Estudamos, conversamos, rimos, distraímo-nos, trabalhamos… e muitas vezes esquecemo-nos de uma coisa: também existe vida fora dele.

Este é um tema que está muito presente nos dias de hoje, sente-se nas preocupações dos pais, nas rotinas dos jovens e, sejamos honestos, também nas nossas.

Não para apontar o dedo, mas para refletirmos juntos. Porque, verdade seja dita, todos nós (miúdos e graúdos) já demos por nós a fazer scroll sem fim, a ver um vídeo atrás do outro, ou a responder mensagens sem vontade nenhuma, só porque sim. Porque é o que fazemos, porque o silêncio desconforta, porque não sabemos bem o que fazer com o tempo livre quando não está um ecrã por perto.

Tenho observado que, quando conseguimos sair dessa “bolha”, mesmo que por pouco tempo, acontecem coisas boas. Há quem redescubra o gosto por desenhar, quem volte a sair com os amigos para dar uma volta sem estar com o telemóvel na mão, quem se lembre de como é bom adormecer com um livro. São pequenas coisas, simples, mas que fazem bem.
Nem sempre é fácil. Muitas vezes, o que está lá dentro do ecrã é mais rápido, mais estimulante, mais imediato. É lá que estão os amigos, os vídeos que nos fazem rir, os jogos que nos distraem dos dias difíceis. E isso tem valor. Não é sobre demonizar a tecnologia, ela faz parte da nossa vida, é útil, aproxima-nos até. A questão é quando nos esquecemos de que o mundo real continua aqui, à espera de ser vivido.

Às vezes, em consulta, faço uma pergunta simples: “Quando foi a última vez que te sentiste mesmo bem, feliz, tranquilo, sem estar ao telemóvel?”
E a resposta vem com alguma hesitação. Muitos dizem “não me lembro”. Outros recordam um dia de praia com amigos, uma viagem em família, uma tarde no sofá com o cão ao colo, uma ida ao cinema. Momentos em que o tempo abranda. Em que o corpo está presente. Em que a cabeça descansa.

Também me contam que sentem dificuldade em “desligar” do online. Que sentem ansiedade quando estão longe do telemóvel. Que passam horas no ecrã e, no fim, sentem-se… vazios. E é aqui que entra também a saúde mental.

Quando passamos demasiado tempo ligados ao ecrã, especialmente nas redes sociais, estamos a expor-nos constantemente a estímulos rápidos, comparações, expectativas irreais e uma sensação de urgência permanente. É como se o cérebro nunca tivesse tempo para descansar.

Nos adolescentes, isto pode traduzir-se em mais ansiedade, maior dificuldade em dormir, alterações de humor e até um aumento da sensação de solidão, por mais contraditório que pareça. Porque estamos ligados, mas não estamos em contacto verdadeiro.

Muitas vezes, ouço desabafos como:
“Parece que toda a gente está a viver melhor do que eu.”, “Fico irritado quando o vídeo acaba.”, “Sinto-me mal comigo própria depois de passar tempo nas redes sociais.” E estes sentimentos são reais, têm peso e um grande impacto na nossa vida.

Nos adultos, o padrão não é muito diferente, a fadiga mental, o cansaço constante, a falta de concentração e a sensação de estar “sempre em modo alerta” são sinais de que talvez seja preciso parar e reencontrar momentos de calma, de presença e de verdadeiro descanso longe das telas que tanto nos estimulam. Por isso, viver fora do ecrã é, também, cuidar da nossa saúde mental.

Viver fora do ecrã é um ato de equilíbrio. E, muitas vezes, um gesto de amor próprio e de amor pelo outro também, quando a nossa atenção é para ele voltada.

Se leste até aqui, deixo-te um convite simples:
Reserva, esta semana, uma tarde ou uma manhã sem ecrãs. Sem notificações, sem distrações. Só tu, e o mundo à tua volta. Observa como te sentes. E lembra-te: não é sobre fazer tudo diferente, é sobre viver um momento de cada vez, porque é fora do ecrã que a vida acontece mesmo.

Artigo de opinião da madrinha deste projeto, a psicóloga Juliana Rocha
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